Escolhi esse filme por gostar de trabalhar muito
poesias na interpretação de textos. Aprecio e dedico-me a leitura de poemas de Mário Quintana a muitos anos.Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e muitas vezes vê-lo
caminhando pelas ruas e praças
de Porto Alegre, grande inspiração de suas poesias.
Trabalhei o filme com o Ensino Médio e Fundamental.
Os dois níveis tiveram a mesma reação de surpresa e choque
ao episódio final. Ficaram sem fala, desolados, demoraram segundos para entender,
não acreditavam, não esperavam e não queriam aquele final.
Não lhes falei nada a respeito do filme, e qual seria o assunto, só avisei que fariam um trabalho. Expliquei e falei sobre os Curtas e assistimos com muita atenção.
Um aluno intitulou seu trabalho de "O prisioneiro" e escreveu que quando foi morar em um sitio com os pais, fora da cidade; sentia-se só, não podia sair pois tudo era perigoso; na escola não conseguiu fazer amigos, escondia-se pelos cantos e ficava horas sentindo-se um prisioneiro fora do ambiente que vivia antes (nossa cidade, nossa escola,). Comparou-se com o peixe fora dágua, sentindo-se acuado, sofredor, preso. Tudo acabou quando voltaram a residir em nossa cidade e voltou para a escola e os amigos.
Outra aluna me sensibilizou bastante com o texto intitulado "Minha Infância",falando do problema que teve quando pequena, da luta de seus pais para cuidá-la. Falou sobre sua família "que é muito legal, que os adora e os colegas e professores, que são ótimos", terminou seu relato dizendo:" mas eu tenho um olho de ... ". Todos professores e alguns colegas sabem que ela nasceu comum tumor no olho e teve de retirá-lo e tem um olho de vidro. Sente-se complexada por isso, mas pela primeira vez expressou este sentimento.
Outra produção de um aluno teve o título " Meu pai e o cão." Contou que o pai querendo muito um cão que tinha visto em uma casa, sentiu desejo de tê-lo, mas achou que o dono não lhe daria o cão. Um certo dia o roubou e levou-o para casa. O cão entristeceu, não comia e nada lhe fazia melhorar. O cachorro acabou morrendo. Mesmo sabendo que estava daquele jeito por falta dos legítimos donos, seu pai não teve coragem de devolvê-lo. O aluno fez uma critica muito grande ao egoísmo de seu pai, por ter roubado o animal, por não respeitar o sofrimento do cão, nem da família que ficou sem ele, etc. Percebi o desenvolvimento de sua consciência quanto ao "certo e errado", e sua impotência perante a atitude do pai.
Muitos alunos falaram em maldade contra animais, do respeito que devemos ter por seu habitat. Contaram de suas saudades, de arrependimentos de não terem cuidado bem de seus animais.
Outra produção de texto intitulou-se "Por toda Minha Vida", contando que, de toda a vida dele (fez 12 anos), o que mais o comoveu foi a morte do pai, "por mais ruim que era, o amor que tinha por ele era muito grande". Conta que o pai brincava com ele, mas quando bebia, batia na mãe por nada. Às vezes ela tentava fugir enquanto o pai ia para o trabalho, mas alguém o avisava e não dava certo. "Quando a mãe contou que estava grávida de mim, ele a furou com um espeto só porque ela não sabia fazer chimarrão." Mesmo assim disse que amava o pai, que faleceu quando tinha sete anos.
Assim, pude ver que este filme mexeu profundamente com os sentimentos dos alunos, promovendo um resgate de valores talvez esquecidos, um olhar diferente sobre o que muitas vezes lhes parece corriqueiro, a importância de sermos bons e honestos, de respeitar os limites de cada ser e a grande diferença de amarmos livremente, despojados de egoísmo.
O efeito do Curta "Velha História", superou as expectativas sobre produção textual, pois na verdade fizeram relatos de suas próprias histórias, talvez identificando-se em todos os aspectos com a mensagem do filme.